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PROJETO RESTAURO


SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE E DIGNIDADE CULTURAL.
OS CONCEITOS QUE JUSTIFICAM NOSSA AÇÃO

Já há algum tempo, a PUC-Campinas vem planejando uma nova história para o Solar, que se iniciará, primeiramente, com o restauro do edifício. Este momento exige que se apontem os conceitos sobre os quais justificam essa ação. São eles: o de sustentabilidade cultural, de responsabilidade cultural e de dignidade cultural.

A sustentabilidade cultural vincula-se à compreensão de planejamento das ações culturais que objetivam a preservação do patrimônio cultural e o usufruto desse conhecimento por toda a sociedade. Indo ao encontro dessa premissa, a PUC-Campinas coloca-se como Instituição preocupada com a salvaguarda da memória e identidade cultural da cidade de Campinas e, por isso, lança o desafio a todos de se comprometerem em resguardar a história para as gerações futuras.

Reconhecer a importância da sustentabilidade cultural e sua interface com a valorização e defesa do patrimônio histórico, cultural, artístico, arqueológico e paisagístico, não é uma tarefa simples, porém se faz extremamente necessária. Assim como o direito de acesso à informação e ao conhecimento, o patrimônio tem relação direta com o saber e o bem-estar das pessoas. O meio ambiente cultural é aquele que torna a vida humana mais aprazível, mais completa, mais bonita, mais viva e interessante, permitindo que o cidadão sobreviva com qualidade e dignidade cultural.

A preservação do patrimônio cultural é uma obrigação da sociedade civil e o restauro é uma ação que se faz necessária, pois as primeiras providências preventivas já não se sustentam. À medida que o número de bens tombados cresce, a necessidade de restaurações e manutenções também aumenta e o tratamento destinado a esses bens tende a melhorar à medida que o entendimento e o reconhecimento do patrimônio como um bem público comum a todos tomam perspectiva mais abrangentes. O interesse pela forma de tratamento dessas obras perpassa o interesse coletivo, e não apenas de uma pequena parcela da população.

É importante reforçar a necessidade de valorização das áreas de proteção e preservação patrimonial e da própria cultura material como fontes riquíssimas de registros e conhecimento. É preciso agir rapidamente para que os patrimônios não venham a ser descartados e marginalizados de forma imprudente. Levando em consideração as reflexões sobre a importância da preservação do patrimônio como responsabilidade cultural da sociedade civil e a relação com a sustentabilidade cultural, que reafirma as ações de planejamento pertinentes à preservação e a transmissão das identidades que contribuíram para a construção da história e da cultura campineiras.

A Universidade se coloca, ainda, como Instituição de Ensino Superior preocupada com a dignidade cultural, visto que compreende que os campineiros possuem o direito à cultural, às artes, à memória e ao conhecimento.

A PUC-Campinas reafirma sua efetiva e contínua participação na história que já imprimiu e que ainda irá imprimir na cidade como fomentadora das práticas preservacionistas da memória cultural da cidade de Campinas.

BREVE HISTÓRIA DO SOLAR DO BARÃO DE ITAPURA


 

CAMPUS CENTRAL DA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

Desde as primeiras décadas do século XIX, o café substituía o açúcar como principal produto da economia campineira. Por volta de 1850, a Vila atingia a condição de um dos maiores centros cafeicultores da Província de São Paulo. A produção e comercialização do produto propiciaram grande desenvolvimento local, permitindo a instalação de ferrovias, um hipódromo, calçamento de ruas, mercados, jardins, fontes, chafarizes, iluminação pública, associações culturais, artísticas e recreativas, lojas de qualidade de influência francesa e outros melhoramentos.

Na região de Campinas, na época conhecida como “Oeste Paulista”, instalaram-se inúmeros fazendeiros que, além de suas propriedades rurais, construíam seus palacetes na cidade.

Joaquim Policarpo Aranha (1809-1902) teve muito destaque na vida econômica, política e social da cidade. Além de próspero cafeicultor e proprietário de várias fazendas na região, tomou parte na maioria das iniciativas públicas campineiras.

Foi vereador, comendador da Imperial Ordem da Rosa e, em 19 de janeiro de 1883, adquiriu o título de Barão de Itapura. Nascido na Vila de Ponta Grossa, mudou-se muito jovem para Campinas com seus parentes. Mais tarde, tanto ele como seu irmão Manuel, futuro barão de Anhumas, tornaram-se grandes proprietários de terras no município.

O palacete, conhecido como Solar do Barão de Itapura, no centro de Campinas, foi encomendado por Joaquim ao construtor Luiggi Pucci, para servir de residência para sua família. Em estilo renascentista italiano, era um arrojado projeto para a época, pois, os 227 cômodos foram construídos em alvenaria de tijolos, substituindo a taipa de pilão, técnica empregada nesse período. A obra, realizada em três anos, é inaugurada em 1883.

O Barão residiu por pouco tempo nesse endereço, tendo este falecido em 1902 e sua esposa, a baronesa consorte, em 1921, quando o imóvel foi herdado pela única filha solteira dos seis filhos do casal, Izolethe de Souza Aranha.

Izolethe, a partir de 1935, aluga o edifício para a Arquidiocese de Campinas, que passou a utilizá-lo como sede de algumas repartições da Igreja, como, por exemplo, o Instituto das Missionárias de Jesus Crucificado, instituição religiosa criada pelo bispado de Campinas.

Em 1941, o prédio é transferido para a Sociedade Campineira de Educação e Instrução, até os dias de hoje mantenedora da Pontifícia Universidade Católica, a PUC-Campinas, para a instalação da Faculdade de Ciências, Filosofia e Letras.

A transferência oficial de propriedade aconteceu em 1952, quando Izolethe, ainda em vida, vendeu o edifício para a Arquidiocese.

Para a instalação da Universidade e o atendimento às novas funções educacionais, o palacete sofreu modificações na sua volumetria original, com ampliações no andar superior e a construção de anexos. Ainda assim é possível perceber a riqueza de detalhes e ornamentações, bem como a grandiosidade da residência original observada nas colunas jônicas, porões de teto abobadado, telhado de platibanda, janelas em semicírculos e afrescos.

Uma das características mais marcantes do edifício é o Pátio dos Leões, como ficou conhecido o antigo jardim do Solar. Restam ainda algumas palmeiras do jardim original, o portão de grade em ferro fundido e os pilares de cantaria com os leões que deram nome ao local.

O Solar foi tombado pelos órgãos de preservação estadual, o CONDEPHAAT (1983) e municipal, o CONDEPACC (1988).

A PUC-CAMPINAS E O SOLAR DO BARÃO DE ITAPURA


 

Desde o início do século XX, o Brasil já contava com faculdades católicas com a criação, em 1908, no Mosteiro de São Bento, em São Paulo, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Na década de 1930, Dom Francisco de Campos Barreto, segundo Bispo da Diocese de Campinas, idealizou a criação de uma Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Nessa época, a Igreja já administrava na cidade o Colégio Diocesano Santa Maria e a Academia de Comércio São Luís.

Para tornar real seu projeto, Dom Barreto funda, em 1941, ao lado do cônego Emílio José Salim e do padre Agnelo Rossi, a Sociedade Campineira de Educação e Instrução, a SCEI, que teria como missão reunir as instituições católicas campineiras de ensino.

A SCEI pede, então, autorização ao Conselho Federal de Educação para criar vários cursos como Filosofia, Geografia e História, Letras Neolatinas, Letras Clássicas, Letras Anglo-Germânicas, Matemática, Pedagogia, Ciências Políticas e Ciências Sociais, já planejando a expansão da recém-surgida Faculdade Campineira.

Em 7 de Junho de 1941, no Solar do Barão de Itapura, nasce a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, a primeira unidade do que viria, mais tarde, a ser a Universidade.

As Faculdades, finalmente, se tornaram uma Universidade Católica em 1955 e, em 1972, a Universidade recebe o título de Pontifícia atribuída pelo Papa Paulo VI.

Nos 74 anos em que o Solar abrigou as dezenas de cursos da Universidade, mais de 180 mil profissionais se formaram em suas dependências.

Não tardou, no entanto, para que o casarão do Barão de Itapura se tornasse pequeno para agrupar todos os cursos da PUC-Campinas. Assim, os novos Campi foram surgindo de acordo com a necessidade de espaço: o Campus I, o Campus II, o Seminário e o Instituto de Letras.

Já há alguns anos, a PUC-Campinas planejava uma nova história para o Solar do Barão, que passou a ser observado como o lugar das memórias que marcaram a história das personagens que moraram, estudaram e trabalharam no seu interior. Ou, ainda, o palco da história em que se viu a transformação urbana da cidade de Campinas.

O seu restauro e adequação de seu espaço físico às atividades de arte, cultura e lazer, deixarão o espaço em harmonia com as novas tendências de requalificação do centro de Campinas, impulsionando a valorização do entorno e do conjunto de imóveis inseridos ao seu redor.

Milhares de alunos que passaram pelo Solar fizeram da PUC-Campinas uma instituição relevante para a sociedade. Considerada a melhor universidade privada do estado de São Paulo e a melhor particular do país na área da saúde pela 5ª vez consecutiva. A Faculdade de Direito figura entre as quatro melhores do estado no VI Exame de Ordem Unificado, além de as escolas de Engenharia estarem, seguidamente, entre as melhores do País, em ranking divulgado pelo Ministério da Educação.

O PROJETO DE RESTAURAÇÃO


 

O suntuoso edifício do final do século XIX nominado antigo Solar do Barão de Itapura é um patrimônio cultural de importância histórica e arquitetônica salvaguardada pelos Conselhos Municipal e Estadual de preservação por meio do tombamento integral da edificação. Em respeito às orientações e reflexões instruídas pelos processos de tombamento, as recomendações das Cartas Patrimoniais e os critérios técnicos reconhecidos e adotados internacionalmente pela Unesco, o Restauro do antigo Solar tem como objetivos centrais a preservação da memória cultural e do patrimônio construído, a fim de garantir o seu reconhecimento como elemento de referência da memória e identidade da sociedade campineira e o apogeu do ciclo cafeeiro no Brasil.

A ocupação inicial do edifício, como residência, sofre alteração no uso original para receber uma escola, a qual incorpora a seu uso auditório, biblioteca e sanitários. Essas alterações sucederam a adaptação de espaços desconsiderando a preservação dos elementos artísticos integrados ao patrimônio. Sabedores de que as transformações dos espaços arquitetônicos, reconhecidos como patrimônio histórico, com usos atuais diferentes da composição original, agregam valores histórico, artístico, social e humanitário à comunidade e seus mantenedores. (DOMINGUES, 2016, p.16), o Restauro repensa esses usos de maneira a zelar a conservação do patrimônio equalizado à demanda de ações carentes nessa área urbana.

Pensando nessa reciclagem de uso e zelo ao patrimônio, o Restauro propõe a remoção dos elementos posteriores que esbarram no valor agregador à obra de arte, o edifício tombado, e o resgate pela leitura do objeto fim de orientação ao tombamento, à leitura de um Solar. Destaca-se, então, o resgate das varandas, a construção de um anexo com sanitários e garantia de circulação vertical e acessibilidade universal, e a salvaguarda das pinturas decorativas ímpares do final do século XIX.

O Restauro também foi planejado e equiparado às diretrizes da Lei nº 10.850 de 7 de junho de 2001, com destaque ao item dez “estímulo à atividade turística que valorize os atributos naturais, arquitetônicos, históricos ou culturais da região, com base em planejamento voltado à preservação e à estruturação necessária para o desenvolvimento de tal atividade”.

CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS E O RESTAURO


 

O edifício foi construído, inicialmente, em alvenaria de tijolos maciços presentes quase que em sua totalidade tanto nas paredes externas como internas. O embasamento das alvenarias é misto, emprega tijolos maciços e pedras, esta segunda predomina seu emprego na região perimetral do edifício. O método construtivo diminui sensivelmente problemas com umidade ascendente e conforto térmico, portanto será mantido e salvaguardado. As paredes do edifício são autoportantes de tijolos maciços, com assentamento em amarração de um tijolo, revestidos em argamassa.

As fachadas seguem o estilo arquitetônico neoclássico italiano, compostas por embasamento, corpo e entablamento, sendo que a fachada frontal apresenta maior riqueza de ornamentos, pela própria função receptiva. O desenho de planta do antigo Solar dispunha de um conjunto de varandas ou solares, duas na fachada frontal e uma terceira aos fundos. Tais varandas, devido às alterações de uso e ampliação de áreas foram fechadas, e o Restauro resgata a leitura dos solares. Há uma composição de janelas e portas balcão em madeira, ambas de folhas duplas, com abertura simples, que serão mantidas e conservadas. Já alguns novos caixilhos foram incorporados à edificação, em substituição ao material original, em ferro, que serão removidos e há propositura por nova leitura padronizada.

A cobertura é composta por estrutura de tesouras, caibros e terças em madeira, cobertas com telhas cerâmicas tipo francesa. O conjunto de panos que constitui a cobertura será restaurado e o sistema de calhas e condutores sofrerá intervenções para plena função.

Internamente há uma mistura de forros, partes em estuque ou madeira. Há, também uma subdivisão dos forros em estuque, uns apresentam pinturas decorativas em todo pano, outros pinturas decorativas nas bordas, formando molduras e, ao centro, medalhões. Os forros de estuque e suas pinturas decorativas serão restaurados.

As mesmas diversidades de materiais podem ser vistas nos pisos. Há áreas com soalhos, marchetaria, mármore e cerâmica vermelha. Todas as peças serão mantidas e restauradas. As paredes, por meio de prospecções pictóricas, exibem pinturas decorativas. Outro detalhe relevante é a existência de pinturas decorativas nas paredes externas voltadas para o pátio interno. Todo elemento decorativo será mantido e salvaguardado.

A UTILIZAÇÃO DO SOLAR RESTAURADO E SEU LEGADO PARA CAMPINAS


 

O Solar do Barão de Itapura sobreviveu ao tempo e é imensurável o seu valor histórico. De residência o espaço passou a ser lugar de produção acadêmica e o jardim do Barão, conhecido como o Pátio dos Leões, palco de intensa atividade estudantil.

Refletir sobre a sua preservação e que uso se dará ao monumento após o Restauro é de extrema importância.

O centro urbano de Campinas está associado às primeiras tentativas de ocupação e organização do homem no território ocupado pela cidade. Prontamente, essa área angariou a concentração de inúmeras obras e monumentos que refletem o histórico da origem e trajetória da cidade. A permanência desses vestígios e monumentos não significa a promoção exacerbada do passado ou sua evocação saudosista, mas sim garantir o direito de preservação e salvaguarda da memória coletiva dos campineiros.

Os elementos estéticos, a riqueza dos detalhes e as técnicas empregadas nesse tipo de construção vão muito além da materialidade das paredes. O ícone da imagem, o que se vê através de uma fachada, não revela o que se esconde por detrás dos seus portões. O conhecimento e as técnicas empregados na elaboração e confecção da obra incluem aspectos singulares, como o uso de adornos imponentes, afrescos, janelas, grades, portões e jardins, repletos de
informações sobre a forma de organização social e distribuição de espaço.

Além de chamarem a atenção pela estrutura, trazem elementos da prova documental, dos recursos e matérias-primas utilizadas para a construção em uma determinada época. Logo, o Solar do Barão de Itapura não se resume apenas à esfera da decoração e do embelezamento. Para, além disso, deve-se compreendê-lo também como uma importante fonte sobre o mundo do trabalho e das tradições culturais da Campinas da segunda metade do século XIX.

O Solar não viverá apenas do passado, pois, ao promover o Restauro, a PUC-Campinas promoverá importante função social. Feito o Restauro, ao Solar será dada uma destinação eminentemente cultural, não apenas aos membros da Universidade, mas a toda a sociedade de Campinas e região propiciando enriquecimento cultural à população, promovendo o turismo, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e garantindo dignidade cultural à sociedade em geral.

O Solar do Barão de Itapura, reconhecido como patrimônio histórico e cultural pelo CONDEPACC e CONDEPHAAT, passará a ser, após o Restauro, muito mais do que o registro histórico do passado, mas, também, um lugar de valor socioeducativo já que seu espaço, por meio de uma ocupação consciente, será usufruído por toda a população, que se transformará na principal beneficiária das atividades educativas museais, patrimoniais e artísticas.

O Restauro do Solar e a adequação do seu espaço físico às atividades de arte, cultura e lazer deixarão ainda o espaço em harmonia com as novas tendências de requalificação do centro de Campinas, sendo um projeto indutor da valorização do entorno e do conjunto de imóveis inseridos ao seu redor.